Publicado em: 24/09/2013 17:09
Após uma década de mercado aquecido, a demanda por engenheiros se reduz, deixando o "apagão" de profissionais para trás.
Além da economia indo mal, a ducha de água fria vem dos cortes de investimentos promovidos recentemente por duas das principais contratantes de projetos de engenharia do país, a Petrobras e a Vale.
A primeira tem suas receitas comprimidas pelos preços congelados pelo governo na tentativa de reduzir a inflação. A segunda, pela redução no crescimento chinês.
Com menor procura por serviços de engenharia, os salários médios se acomodaram em uma faixa entre R$ 5.000 e R$ 6.500 para engenheiros civis, mecânicos e eletricistas, segundo dados atuais do Datafolha. A troca de empregos também caiu. Empresas do setor relatam que a rotatividade passou de 20% ao ano para 5%.
O principal motos desse cenário é o fato de a engenharia ser fortemente dependente da expansão econômica.
O crescimento fraco do PIB desde o início do governo Dilma é, assim, tanto causa quanto consequência da redução de projetos e obras.
Em 2010, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elaborou um modelo que relaciona o crescimento do PIB com a demanda de engenheiros.
Na época, os dados já apontavam que os engenheiros tinham uma remuneração alta em comparação com outras profissões, e havia o interesse de saber se uma eventual escassez poderia torná-los ainda mais bem pagos.
SEM GARGALO
A conclusão dos pesquisadores, porém, foi que o Brasil não teria grandes problemas com falta de engenheiros se o crescimento médio fosse de até 3% ao ano do PIB.
Vale lembrar que, desde 1980, o crescimento médio do PIB foi de 2,7% -e esse valor era puxado por um maior crescimento populacional.
A pressão por mais profissionais só viria com crescimentos maiores. Expansões médias de 5% e 7% ao ano exigiriam 595.383 e 891.729 engenheiros em atividade até o fim desta década, ante apenas 465.504 com os 3%.
O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia tem hoje 618 mil engenheiros registrados -embora nem todos necessariamente trabalhando todos os dias na área.
Além disso, cresce o número de estudantes. Em 2006, os cursos de engenharia receberam 95 mil calouros. Em 2011, dado mais recente disponível, foram 277 mil, ultrapassando o número de novos alunos de direito (199 mil).
"As preocupações recentes com a escassez de mão de obra especializada têm merecido ampla divulgação. Elas correm o risco de se fundar numa observação menos detida dos dados ou tendem a generalizar situações muito específicas que são objeto de justos reclamos de determinados setores empresariais", escreveram os pesquisadores.
A conclusão é compatível com a impressão do mercado. "Há um ano e meio, caçávamos engenheiros no laço. As pessoas vinham com pedidos salariais muito altos. Agora há muita gente disponível, parada há muito tempo", diz Rodrigo Moralez, diretor de engenharia da Progen.
"Com o PIBinho de hoje, as empresas de engenharia ficam ao sabor do investimentos de gigantes como Vale e Petrobras. Se eles puxam o freio, muitas param."
Na ponta dos sindicatos, a impressão é igual. "O momento favorável passou e talvez já estejam sobrando profissionais", diz Murilo Pinheiro, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros.
Há ainda, na construção civil, preocupação com o futuro do mercado imobiliário.
São Paulo, por exemplo, tem hoje cerca de 18,5 mil imóveis prontos que não foram vendidos pelas construtoras. Em 2010, eram 9.762.
Dados assim fizeram com que especialistas -como Robert Shiller, de Yale, que previu a crise americana- alertassem para a formação de uma bolha imobiliária e sugerissem que as construtoras moderassem lançamentos.
Fonte: Folha de São Paulo